o sanatório
.
Não
é só um hospital: é um depósito de homens, e não são uns homens quaisquer, são
aqueles munidos de feridas, febre, dor, sangue, doença. Aqui, a carnificina é crua
e lenta, a moléstia garante matar, mas demora a cumprir a promessa.
Há
um velho que dorme de boca aberta; ressona ruidosamente, com muito esforço. Aos
pés da cama tem um balde, contendo uma mistura de pedaços de vísceras e uma
massa fluida e pardacenta; posso ver de fora a marca das olheiras a rodear a
vista, as mãos roxas de tão geladas; posso sentir a pulsação fraca e a imundice
que o envolve.
Mas
não consigo sentir pena, nem compaixão, nem qualquer outro sentimento similar.
Apenas desilusão por presenciar a forma degradante como o velho se deixou
definhar numa cama de um hospital, de um sanatório!, apodrecendo em
medicamentos, algálias, cateteres e sondas. Não o acudiria: o seu estado de
decomposição não tem retorno, mas ficaria satisfeita se me concedessem o poder
de lhe rasgar as feridas e o fazer vomitar.
O
inimigo perfeito.
Acorda
e olha-me de frente! Pára de gemer, pára de fingir que te mexes, pára de
prometer que morres; porque não morres, ah, não, não! Continuas aí quase morto,
jamais morto, a comer-me a clemência.
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