remember a day

auto-hetero-retrato (conclusão)

Vou ultrapassar a realidade, colocar os pés em qualquer coisa de imaterial e sentir a força da matéria inalcançável, desejável e apetitosa.

Vou ultrapassar todos os corpos prostrados à porta do impossível e destilar em dúvidas e conclusões, dilúvios, razões mais que razões.

Vou devorar o tempo antes que ele devore todos os sonhos e ambições, ou me decalque em assunto de tropeções.

Vou reverter a música até desvendar qual a substância original da vibração dos corpos. Porque vou saber qual a nota que faz pulsar o organismo e qual a nota que faz despontar em ti o suave florir da felicidade.

Vou encher-me de vontade, gritar de loucura, pensar o impensável.

Vou rebentar de paradoxos, estoirar em contradições e definir-me em malhas de Vazio de Tudo cheio de Nada.

Vou ignorar os sentimentos excessivos, agudos, graves ou esdrúxulos. Porque vou corromper todas as expressões vexadas pelas sílabas tónicas dos sentires ocos por pessoas desarrazoadas.

Porque sou Eu, ainda que nunca seja Eu, mas multidão de Ser na primeira pessoa todos as orações, daqui e dali.

(Com Pink Floyd a servir de mote a este descalabro)