vanilla sky
Vanilla Sky, por Andelita
Pandini
com música de Sigur Rós
Despe-se a pele da fibra intrusa, tenho os pés colados no céu.
Vim caindo para cima,
atravessando a atmosfera, contrariando todas as regras que me querem presa pela
massa imensa da Terra.
E vejo o Hubble que vê as estrelas que nada vêem
mas tudo deixam ver, porque reage hélio com hidrogénio com isto e com aquilo e
é assim que nasce a luz. E vejo também o Mundo inteiro; vejo, aliás, o Universo
inteiro – virado do avesso:
Ir, ficar e partir.
Deus
com os cabelos em pé e loiça suja a estatelar-se na plataforma celestial.
Homens
com cara e formas de mulher e cães que ladram como gatos.
Pensamentos que se ouvem
com falas que se não dizem.
Confusão
harmoniosa e paradigmas conclusivos.
Somas
que se subtraem mais os opostos que se repelem, esticam, contraem.
Jesus
a multiplicar os pães para os mesmos se dividirem.
Cabelos
curtos são longos.
Perfeitas rectas tortas
erguem curvas direitas.
Vazio
é Tudo. E tudo é Vazio.
Porque
vejo tanta coisa Lá, coisa nenhuma Cá.
Vivam
os mortos!
Vivam
os mortos!
E
gritem os mudos para que os surdos os oiçam.
Que
corram os coxos para os manetas os apanharem.
Revoltem-se
os conformistas para descansarem as almas sobressaltadas.
Vi as costas na cara, provei
um pedaço de firmamento.
Caiu-me
o céu aos pés: está na hora de descolar este corpo estrangeiro do espelho onde
o mar se reflecte, quando Aí é esse azul tão cheio de cloreto e sódio que se
mascara de neblina branca e fresca apenas para fingir que as ondas ainda têm
espuma.
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