zero
Hoje
será sempre a interminável insustentabilidade de ser Ontem, será sempre a soma
de variáveis negativas, um progresso de atrasos e um caminhar em sentido
inverso. Pelo menos, para Nós, que não nos alimentamos de pó e teias.
Enquanto
isso, enrolam-se as ondas numa vibração assincrónica de marcha lenta. Um slow
dançado não por putas, mas por sal e água e gente lá metida: gente normal,
normalíssima, superlativamente vazia, aliás, superlativa e absolutamente
sintética de tão vazia.
Vejo
ao fundo a marginal sulcada de palmeiras. É domingo, as igrejas estão cheias. A
minha fé é outra. Não existe como a querem. Não sinto revolta, nem mágoa, nem
saudade; sinto tudo, tudo, tudo pelo meio: um ego transbordante e arrebatado
por sinais e caras de formas que se dividem pelo somatório das partes.
Seremos
a tremenda loucura de, ilesos nos nossos próprios fragmentos, continuarmos
lavando a roupa suja que ninguém quer ver limpa.
Como
um grande zero que engole o infinito.
Não
acredito em mulheres belas nem em homens deslumbrantes. Na felicidade eterna e
arrebatadora, na monstruosidade formidável de uma bonita história de amor, na
energia das discussões regadas de cólera. Nas grandes e mínimas coisas da Vida
que se atiram do canto mais mundano.
Antes
o meio termo. Ou o anonimato. Zero, obviamente.
Comentários
(E este será sem dúvida o meu comentário menos intelectual aos teus belos textos)
Concordo com o que dizes. O que nos tendo vindo a estragar são as máscaras - aceito bem as naturais, uso-as a todo o momento, como todos - mas há aquelas que se entranham e não deixam que vejamos que lá estão, e são-nos postas por outros. às vezes já é tarde.