se fechar os olhos
lembro-me que estou no fim de mais uma corrida de trezentos e sessenta e cinco dias.
O Verão. Milhões. Andanças. Praia, a palavra proibida,
aroma de maré vaza, noites infinitas, frescas e bronzeadas. Andanças. Rio,
a palavra proibida, aroma de terra e barragem transbordante, noites infinitas, quentes e
ainda mais bronzeadas.
Momentos particulares.
Verde e amarelo e maracujá na poncha. Então
havia música, as mãos dadas e o corpo dançante. Dancei muito, dançámos muito.
Que saudade tremenda de dançar, de soltar o que há em mim de movimento e vida,
em vertigem e rodopio, vibração violenta e imaterial. Os ouvidos estalando, a cabeça tão leve, os braços tão
leves, meus e teus. Abraços. Dias que amanheciam tendo-me na plateia, do lado
de cá do monte, raios reflectidos na transparência da água, os dedos tocando na
superfície reluzente e gelada. A noite caindo lentamente, laranja espraiado em
milhares de tons.
Respira fundo.
Deixa-o vir, mais claro, mais escuro,
espelho de um céu cadente. Bem aventurados os homens que à graça de um dia
assim se concede um minuto mais de contemplação. As ervas crispando-se da água,
como faíscas verdes e tenras, de caule rompendo moléculas do composto elementar.
Se fechas os olhos, e retiras do Universo três segundos de isolamento fundamental, sabes: estás no fim de mais trezentos e sessenta e cinco dias; ou menos. Que sorte não ter sido bissexto. A perspectiva, contudo, dirá se ganhámos ou perdemos.
Eu sou pela vitória - mesmo de olhos fechados, porque os fecho em homenagem às memórias boas, de sorriso rasgado e sem o álcool que vos embebeda e entorpece.
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