macacos em gaiolas

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(Imagem retirada de Demokratia)
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A rádio fazia uso das frequências disponíveis. E um certo grupo de homens fez uso da rádio. Ao fim de quarenta e um anos de azeda censura, deu-se início ao processo de dissecação de um Portugal adormecido, envelhecido, mirrado, grosseiro, excessivamente patriota, impotente, estagnado no tempo não só ao longo de quatro décadas como ao longo de quatro séculos.
No entanto, a força desta gente valente apenas serviu para abrir as goelas ao povo luso, que agora berra muito e faz pouco. O esforço é, de facto, digno de mérito, mas o Portugal de hoje é somente um mesquinho primata antropóide peludo e peçonhento, cheio de parasitas e, pior que isso, um bicho barulhento, com meia dúzia de dentes (bem estragados, por sinal) para dar umas dentadas secas.


A censura? Essa apenas é mais subtil.
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“venho libertar o macaco
que ele anda um pouco farto da repressão
enlouquece aos pulos na jaula
quase já nem fala
tirem o macaco da prisão”
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Tirem o Macaco da Prisão, Foge Foge Bandido

Comentários

'stracci disse…
O grande problema é que a liberdade almejada em 74, já não o é mais. Agora as pessoas querem prender.se e depender.se cada vez mais e fazer cada vez menos.
A revolução de Abril teve sucesso porque partiu do próprio povo e é a prova que as gentes podem fazer mudanças se não só o quiserem mas também lutarem. Só que aquilo que temos hoje é um exército de parasitas, incapazes de fazer algo mais do que refilar, reclamar, dizer mal.
Assim, com certeza, não vamos longe.
Não podia estar mais de acordo, Sara.
Isto está a ficar crítico, já não é a crise monetária que me aflige mais, é antes a crise de valores que se agrava. Uma puxa a outra. E depois há os palradores, ou os roncadores, à boa maneira de Padre António.
Cláudia disse…
"E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades." em "Os Maias" de Eça de Queiroz
Concordo plenatmente contigo.
Penso que não há muito mais a dizer, apenas acho que o retrato de há dois séculos (em "Os Maias") ou de há quatro como tu dizes, da sociedade portuguesa continua a ser o mesmo,continuamos a ser o povo português de sempre, deixamos que nos saltem em cima, que nos manipulem. Não somos capazes de dizer basta, submetemo-nos aos do topo, dizemos mal de tudo, mas a acção, essa nem vê-la! E, apesar do grande esforço em 74, somos como tu dizes um mesquinho e barulhento primata que de vez em quando dá umas dentadas secas. Afinal pouco mudou.
Anónimo disse…
"Foge Fonge Bandido"? :)
Anónimo disse…
No seguimento dos comentários anteriores, parece-me pertinente a referência ao livro 'Felicidade', de Will Ferguson, em que a dada altura se diz qualquer coisa como

«Os seres humanos não querem ser livres, querem ser felizes. E as duas coisas quase sempre se excluem mutuamente.»

De resto, mais um texto muitíssimo interessante. Estás de parabéns, Ana.

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