une destruction organique


Aqui estamos todos, bons irmãos. Milhares de milhões a viver morrendo. A miosina não perdoa, transformando-nos, um a um, ou a dois e três de cada vez, em figuras rígidas: dêem-lhe apenas uns minutos para poder actuar. Tornamo-nos, então, signos ímpares de um conjunto infinito de corrupção, putrefacção, rigidez de perpétuo óbito, com um sorriso idiota bem desenhado algures no rosto violáceo, que violáceo a morte o deixa.
Mesmo o mais fino fio de cabelo assume a postura inflexível dos braços e das mãos e dos pés e das pernas mortas, restando a forma de um defunto.
Aqui estamos todos, bons irmãos, perecendo à combustão da matéria, sempre felizes e animados, porque somos estúpidos; e um viva! à estupidez e ignorância humanas, urram de alegria, que aqui vamos nós, milhares de milhões, definhando num imenso mar de imbecilidade, tão satisfeitos, sorrindo idiotamente. Sempre sorrindo idiotamente.

Comentários

pb disse…
Ainda dizes que os cadáveres de plástico te fazem chorar. Haha!

Obrigado pelo link, acabei de adicionar o teu ao meu blog também :)

Cumprimentos!
Pickles disse…
A carne apodrece primeiro que os dentes, pelo que o sorriso idiota se perpétua mesmo na podridão.
Estou a gostar do teu blog honestamente, incluindo desenhinhos do Escher.

Miguel

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