o pêndulo

Tangente, normal, normal, tangente… eis que a força se toma em proporções relativas ao espaço e à gravidade, embalando o corpo num movimento circular, por finalizar em extensão e em tempo, variado. A corda bebe o dorso, dá um nó, prende-se ao tecto e estende-se ao limite – somemos-lhe a tensão, que é igual co-seno do peso mais o produto da massa pelo quociente da velocidade (ao quadrado) pelo comprimento da corda. Agora sinto-me embalada em proporções divinais, penso que penso, estou no vazio, não existem forças exteriores ao sistema que me afectem, não há um grito vosso, um sorriso mesquinho nem uma palavra do mais reles que interfira no suave deambular do meu organismo. Não fervo nem deliro em convulsões febris, restrinjo-me a observar, do baloiço improvisado, o magistral cenário que montam e desmontam: vejo de mais alto o que de mais baixo existe, com o ângulo sempre a variar, cá e lá, cá e lá.

É a componente tangencial do meu peso que repõe o meu umbigo ao sítio a que deve pertencer, mas qual contradição ambulante, ele some-se sempre.

Ele e eu com ele.

Vamos sempre escapar, amigo. Não há-de o peso deles (não o nosso, mas o da cambada cega) ser capaz de nos acorrentar ao ponto original; que por muito que regressemos, mora em nós o desejo bestial de não ficar com os pés encharcados na mesma lama onde estão atulhados o outros até ao pescoço, recusando erguer a cabeça para o céu e respirar ar puro.

Só são assim porque se amam.

Deles não há brilho, não há música, não há suave aroma que transpirem. Há apenas um eterno vazio que nos permite vadiar com um movimento infinito, baloiçando entre um e outro ponto: sulcamos as coordenadas, marcamos as posições, derivamos velocidades e acelerações; tudo porque o vazio [deles] nos enche de força – gravítica, elástica, eléctrica, magnética.

Repito:

Gravítica, elástica, eléctrica, magnética.

É por isso que o amor não presta.