(...) thoughts arrive like butterflies
As borboletas voaram todas, deixaram o seu
rasto agora, há pouco, mesmo ontem: pintaram, esfregaram o seu contraste alegre
no céu e desapareceram esborrachando-se contra o lacrado subtil das nuvens. É
uma pena algo tão doce terminar assim, feito em sangue e pernas e asas
desfeitas, preso na imensa lixeira que é o azul contaminado lá de cima.
Mas
que me interessa que tenham voado e morrido todas? Nada. Porque hoje estou
passiva, tranquila e flácida, como uma grande bola de sabão, como toda a gente –
nada me inquieta: nem sangue, nem pernas ou asas desfeitas, ou multidões em
reboliço, ou ouvidos moucos, ou cérebros em nó, ou farsas, ou tu, ou tu, ou tu.
O
que vale é que amanhã as borboletas voltam e eu ressuscito. Se há coisa que
detesto são as malditas bolas de sabão. São, aliás, todas as prisões. As de
agora mesmo, as de há pouco, as de ontem por esta hora.
E tu, tu, e tu também.
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