gato maltês
O senhor fala francês?
Então não fala! É ver
- se a oportunidade de ver som se desse – o acento que os r’s lhe tomam no
fundo da garganta, e como os sons se alongam no seu assobio mais pronunciado, o
descair ligeiro das comissuras dos lábios para sair mais fina a conjugação nasalada
do –i com o –u, a obliteração do –e no fim das palavras. O canto que se canta
falando apenas.
O senhor fala francês, então não fala!
Mas não conhece os
palácios, as boulevards povoadas de frescas árvores, a torre Eiffel, as igrejas, basílicas e catedrais, as
imponentes praças e arcadas, os jardins de primavera em tempo de inverno, o
cheiro dos croissants quentes, do queijo misturado na música das concertinas. Não
sabe nada das esplanadas transportadas de um outro tempo, com as mesas assentes
num só pé, pé esse que se curva ao beijar o chão, abrindo-se em três pétalas
recurvadas, pintado a verde, descascado na madeira – matéria original; de cada
lado uma cadeira, também elas de madeira lascada. Os artistas na rua
pintam como quem dança ao sabor da vida que a sua cidade, intemporal, transpira, e no topo das suas cabeças balança uma boina preta, tão instável quanto o pincel e a paleta.
Gato maltês apenas fala francês...
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