estalidos nocturnos
Não sei se este quadro de luz e som
cimentado pela solidez
[dúbia: vítrea e aquosa, certa e duvidosa]
dos meus olhos é parte de dia 28, se de dia
29…
Provavelmente ainda estamos em março, o mês
que dá nome à lebre das Maravilhas, e dentro em pouco este passará para vir
outro repor o curso do tempo em seu lugar, mas com outro nome.
Ainda vou a tempo.
Ainda vou a tempo?
O comboio já bufa na estação e faz da calha
de ferro o seu poiso momentâneo, solta vapor, fumo e alguns grunhidos de impaciência.
Está iminente a sua partida, e daqui a Ourique é uma questão de minutos. Faz da
minha tranquila caminhada sobre a beira do cais o precipício da sua desgraça,
com o carvão carborando avidamente o oxigénio, numa reacção vã de quem faz para
nada aparecer.
O problema é que só sei da certeza das
horas a possibilidade da sua inexistência; por isso, partem sempre as faluas vazias de
mim.
Comentários