consumir o vazio
Volveram-se
três curtos, intensos e prolongados circuitos em torno da estrela maior dos
nossos dias desde a primeira vez que me plantei à porta da loja mágica onde
todos os sonhos habitam pagando de renda humildes cifras.
Corri
os caminhos que Eça emprestou a Carlos – a cabeça girando em órbita de outro
sistema, com outra constante gravitacional, outra massa, outras equações -,
embrenhada no complexo de prateleiras repletas que iam ficando atrás dos meus
passos.
E só
assim se anestesiam as dores de parto que o tempo deposita sobre as páginas
nascentes.
Não
sou mais a mesma, não pertenço a esta cidade, não sei nada sobre este país.
Não
sou eu.
Porque algo neste campo de ervas altas caiu no precipício da indiferença, e outra coisa, mais incrível, mais
maravilhosa, nasceu. Não ocupou o lugar do morto, obviamente, mas sim o que o
aguardava vazio – desde sempre, até quando?
Os planos
tangentes, com o seu mísero ponto em comum, estão dubiamente sobrepostos. A
vertigem que estimula a inervação simpática do dito fermenta a clara visão de
que tem de ser diferente; que essa coisa rígida e direita com uma tábua polida
não é mais eu.
***
Devora o vazio.
Devoro, sim.
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