ela-eu e as outras
Se
eu fosse uma mulher, comover-me-ia como todas as mulheres quando tocadas pela
doçura da sua multiplicidade, faria de cada lugar-instante a réplica de um
drama: a onda atrasada e remanescente, a S, a P, as longitudinais e as outras,
as que passam o núcleo fluido da Terra, as que se perdem no embrenhado de ferro
incandescente - e atenção: são todas as mesmas duas.
Se
eu fosse uma mulher, choraria da plateia a imagem do espectáculo terminado, e
se eu fosse uma mulher, repito e sublinho, derramar-me-ia em virtude da
passagem do regurgitar cíclico do verde dos troncos até maio mortos, do soltar
cristalino da natureza reclamada ao seu tempo. Comover-me-iam, enfim, o carreiro
de patos-filhos atrás da pata-mãe, os líquenes e os musgos e os fungos que
parasitam a madeira letárgica, os nenúfares e a película de pequenas gotas de
clorofila sobre as gotas de água do lago, as penas dos pavões, a certeza de
existirem ninhos - e nos ninhos ovos e nos ovos um embrião – alojados na
fortaleza de ramos pendentes.
Mas
eu não sou uma mulher: sou uma criatura que se impressiona sem verter uma
lágrima.
Que vai, da mesma forma que quem fica.
Que vai, da mesma forma que quem fica.
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