adeus agosto
Sabe
bem estar aqui e escutar o marulhar das ondas, numa preguiça que só tem sentido
e desculpa no verão. Sabe bem o calor que se filtra na areia e a escalda para então me escaldar os pés e encher a boca de sede. Sabe bem passar os dedos pelo cabelo teso de sal, numa tentativa vã de o pentear. Sabe bem a marca da toalha na pele amolecida e,
paradoxalmente, tostada, mais o perfume do protetor que dela se solta – um perfume
que inunda todos os os sentidos sempre que descubro o frasco na casa-de-banho e
me deixo mergulhar nas memórias estivais que em si contém.
Esta
terra é feita só de verde e azul, ocasionalmente interrompidos por tons de
castanho e outras misturas delirantes (na verdade, é tudo branco decomposto,
mas, quem quer saber?). Das árvores ao mar, ao céu que lhe é espelho imenso:
profundo verde e derradeiro azul.
Pois
que sabe bem dar descanso aos arranhões num banho feito também por palavras
doces vindas de outro lado da europa; e no meio de tudo isto – terreno e etéreo
– escutar as conversas alheias de famílias que montam estandarte na praia como se nunca dali fossem sair.
Sabe
bem dizer adeus a este mês de texturas tão díspares (a chuva e os jardins
vienenses deram lugar ao frenesi húngaro, que deu lugar, por sua vez, aos
telhados incríveis praguenses, novamente as estradas esburacadas de Budapeste,
para enfim chegar ao topo das pereiras do meu país e à areia quente das praias
que me são casa) e que é, sem dúvida, o meu preferido. Traz liberdade, dá-me
amor novo, vida e esperança e livros e cor. Porque dizer adeus ao meu querido
agosto é afirmar – com toda a força – que quero dele o molde sempre presente
para cada mês que se siga, nos onze que me separam daquele que já anseio.
foz do arelho, agosto 2014