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Não cura a osteoartrose, mas cura a solidão, o degredo e a terrível decepção que é o Natal em tempos de cólera, esta quadra absolutamente desumanizada e terrivelmente congestionada de vazio. Que o problema está todo no grande monte de esterco que se mascara com a cara dos homens, e a miséria está toda cá fora.
Porque deixaremos sempre os nossos desenhos por pintar. Deixaremos sempre perdidas as agulhas do croché no meio do chão do quarto. Deixaremos sempre comida no prato e água no fundo do copo. Deixaremos sempre de falar quando o silêncio quiser gritar mais que o devido, e deixaremos de ver quando os olhos se cansarem da pigmentação monocromática que tinge o dia-a-dia-a-dia-após-dia. Seremos sempre abafados pelos níveis baixos de insulina no sangue, tal é a dose brutal de doçura oca que se instala nas hemácias trôpegas.
Porque seremos sempre humanos, gente ou pessoas ou animais dotados de razão, ou coisa nenhuma cosida em malhas de vulgo pensar; sincronia idiota em redor dos órgãos vitais - os mesmos órgãos que dão razões à máquina para se continuar a mexer...
Porque seremos isso tudo e, no entanto, nunca seremos tanto: a diferença é que, aqui fora, comeremos, sempre que pudermos, os braços ou as pernas do próximo, como não faríamos a nós mesmos. Aqui fora, são as bestas que mandam, já que reinam os quatro ministérios que Orwell criou: Paz, Amor, Fartura e Verdade em todo o seu esplendor horrendo.
É por isso que, este ano, tenho o melhor presente: há, dentro dele, balbuciares atrapalhados, olhares entorpecidos e vazios, cheiro a tabaco enraizado nas malhas das camisas e aroma a. Há imagens de mulheres de boca bamba e de mãos abertas, o som da meditação. Há Jacintas, Elsas, Filós, Celestes, Conchinhas, Marias ou Teresas; há também Rosas e Ricardos, as palavras silenciosas da Fátima e as imagens que a Deolinda não via, mas ouvia. Desenhos, poemas, frases em chinês.

Não há números, há nomes.
Não há gente, há pessoas.



Comentários

Anónimo disse…
aroma a quê?

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