nuvem mágica


 Van Gogh
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Vem, vem, vem! Traz contigo tudo o que te impregna de Ti. Tombo no som mudo de um traço que não sai das minhas mãos, e também não sai das tuas, porque Nossas são as mãos que se descaem em contornos de um cenário bem pensado.
Não queremos mais do que ficar no meio das ervas altas, corridas a vento e vidências daquilo sobre o qual, hoje, ainda não reflectimos. Sei o teu nome, e não te nomeio. És, afinal, uma presença constante que constantemente se evapora.

A Maria continua à espera que a noite chegue com a sua bagagem portentosa. Aguarda o negro profundo que, selvaticamente debruçado sobre tudo, como quem se empoleira na calha da janela, vê os bichos correrem na rua. Coitada, devia saber…
Saltam horas para rebolarem os minutos, e a noite não vem.
Está mergulhada na luz embrutecida do sol, a Maria. Já nem vê claramente, está toda feita manchas amarelas e escaldantes, pontos azuis flamejavam com outras tantas cores e tudo desaba com a lentidão de quem caia uma parede nua.
E o sono não traz a noite. Nem menos calor. Ou mais calor.
Aguarda sonâmbula.
Por fim, o céu pontilhado emerge de um regurgitar de espírito que não se pode mais silenciar. Maria, porém, não chegou a aplaudir o parto.
Coitada, agora já sabe.

Há tantas Marias na terra. Nenhuma sabe o que Nós sabemos. Se calhar, devíamos ter-lhe dito.
Do topo da nuvem mágica.

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