amor e cabanas

Acabou mais um verão e o outono já vai levado pela metade. Divido-me entre dois livros que são ensaios sobre o fim - a morte, o sentido da vida, o absurdo, os passos trémulos da velhice rumo ao contacto inevitável, inalterável e incontornável com a deterioração da vida. E nada disto é simbólico. Nós não tocamos a morte, deixamo-nos submergir - uns mais docemente que outros. Com a noite que chega mais cedo, também eu me torno mais sombria e fechada em torno do meu próprio círculo de pensamentos sorumbáticos. Estes domingos de clausura, tão longe dos Alpes e da alegria que o sol me traz, em que saltito de livro em livro e revejo a matéria estudada, são dias de estar a sós comigo e, caramba, que há de mais terrível que o confronto com o eu?

Nesta fase de transição, é o medo que se sobrepõe. Medo de não conseguir agarrar as coisas importantes simplesmente porque, agora, as coisas que me parecem importantes não são as verdadeiras coisas importantes. Claro que, somadas todas as parcelas, isto não passa de uma questão de semântica; aliás, de timing - semântica e timing. 
Talvez devesse rezar. As coisas importantes não se podem perder assim sem mais nem menos. Talvez rezando, quem sabe... talvez a fé me desse mais confiança e mais sabedoria na hora de escolher as coisas importantes. E força para as manter sempre perto.

O amor é uma cabana.
Subtítulo.
Na praia vazia e imensa, em que ninguém se atreve a caminhar em dias de tempestade tal é o tamanho das vagas, só a cabana, aparentemente frágil, resiste às investidas do vento salgado, gelado e feroz. Porque a madeira é de boa qualidade, resistente, permeável ao pior que a Natureza pode oferecer, capaz de vencer o mar em fúria e a chuva endiabrada, o frio electrizante que viaja com cada rajada. E cada peça junta, sabiamente colocada lado a lado, fará da cabana-projeto uma cabana-casa, onde poderemos viver tranquilamente, espero eu que a vida toda.

Queria muito que o nosso amor fosse uma cabana.

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