cais, ou não?

'A corda ainda prende o pé…

Não adiantava gritar. O corpo (apenas corpo, nada mais) caía fluído pela garganta do espaço, esfomeado por devorar mais carne.
O sangue abria fendas em cada ruga da pele e exigia do homem apenas a liberdade para poder correr fora dos vasos, em confronto directo com a atmosfera exterior.

…mas eu já fugi daqui tantas vezes…

Não adiantava gritar; cada berro saía mudo na surdidão da ravina. A 3ª dimensão a rugir por mais, e mais ia sendo deixado à míngua dela, e mais ia sendo arrastado lá para as entranhas esfaimadas. Desta vez, estava mesmo a ser puxado…

…que não sei se vou voltar.

Na sua boca sentiu o calor visceral do sangue; soube-lhe a amargo. Visão turva, cabeça latente, ouvidos doridos pelo barulho do vento… Não adiantava gritar.

Não tirei fotos porque quero lembrar…
Ele não quer isso. Agarra-se à esperança. Agora as fendas fecham. Agora volta a voz.

…que ainda é cedo ou muito tarde para me vires buscar.'

Comentários

Anónimo disse…
O teu texto é a metáfora viva de que a esperança existe e está ao alcance de qualquer um, mas é preciso ter uma profunda força!
Único! ;)
Anónimo disse…
pois isso mesmoé preciso ter muita força para certas pessoas.
e nem sempre está presente.pelo menos não da forma que queremos.

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