a cor cinza


Sugo a água pelo gargalo sem tampa, e no fim de sorver o suficiente para matar a sede que me enche a boca de secura, pouso a garrafa. E fico a ver girar o turbilhão de forças centrífugas que fazem a água soltar-se de margens descentradas. É um remoinho e não pára de rodar: e roda e roda e roda.


É como estar sentado a ver os calos borbulharem nas mãos, que lavram sôfregas este pedaço de terreno por amanhar.
Escravizei-me na abstinência, assim deitada ao calor do meio-dia, enquanto os ponteiros se batem virados de frente, apontando as unhas ao céu. Pega de caras, como responde a gíria ao cenário do corpo-a-corpo roçando-se até o sangue escaldar nas fauces. Depois, por baixo dos olhos. Por fim, bum!, é ver a massa cinzenta espalhar-se pelo chão sem nódoas, para depois apanhar e guardar no bolso, e esperar que o resto se faça e aconteça.


Abstinência, dizia, de tudo isso: em absoluto; porque é tudo, isso.
Marcha-se de direito rumo ao que se rumar, deixando o dever,  o tem-de-ser e a obrigação no lugar mais sujo e escondido lá de casa.

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