actualizações outono/outubro
Houve dias em que escrevi
melhor, com mais fluência. Sentia-me aí – por força de um espaço inadiável –
capaz de ser molde, e depois forma, de uma ideia. Ser ideia, fazer-me ideia. Desembrulhar-me e desembrulhá-la, e dar de mim, à luz, uma pequena história. Dizem
que falo como se as contasse; penso então que não poderia ser de maneira
diferente, mas seria bem melhor se escrevesse com o jeito com que as conto.
Deve ser esta a idade
certa para a inveja. Dos poetas, claro. De resto, estou satisfeita. Não pedia
mais: mão e jeito e imaginação sempre maior, maior, melhor. A dos poetas. A dos que fazem das palavras obras de arte.
Transformei-me. Estou mais
confusa e confundida. Não é complexa – atenção! Não é que esteja mais complexa,
repito; não dou para essas reflexões nem gosto de me ver desfocada. É nítido
o que vejo: rapariga não muito alta, aspecto até infantil, soma de todos os
factores de risco, mancha nociva, combustível do caos.
Não era assim. Era uma
roda dentada, como agora, é certo. No entanto, não era a manhã clara e ruidosa
de hoje. Tão urgente, promessa suave e asséptica, sempre na iminência da
infecção.
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