o homem apagado

O Homem Apagado não tem uma essência física. O Homem Apagado não tem um número capaz de o inserir na sociedade, não consta da lista dos vivos, não respira do mesmo controlo governamental. O Homem Apagado envolve-se nas massas sem se deixar envolver; não tem vida, mas vive; não tem fome, mas come; a sua existência, que não existe, é um cruel antagonismo. 

O Homem Apagado não tem um poiso, é de Todo o Lado, essa terra de gente grande onde os Grandes permanecem sem reflexo.
Por isso, não há memória dele, só a sua memória de todos os tempos e de todas as coisas. Quiçá seja no apagão que se atinge a máxima lucidez de uma vida esventrada em ruínas, em lutas desiguais, em promessas e tristezas, mais todas as alegrias.

O Homem Apagado não tem mãos, não serve aos poetas, não serve para nada. A não ser a ele mesmo: antagonismo, ora pois então.
E escever histórias sobre ele é tão impossível como cantar poesias onde se conjugam os sons em música lida. Por isso, aqui fica o retrato do Homem Apagado: 
Um tudo nada de qualquer pessoa.

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