motion sickness

O desconforto no que é confortável e certo será provavelmente a pior maneira de nos sentirmos mal. Estaria melhor se fosse mais pragmática: um sorriso, observação mútua, algumas palavras, jantares e cafés. Mas não. Tendência rara para complicar, a minha, já que me sinto tão diluída. Cansei-me da mão beijada e da troca de afeto educada. Assim: num minuto. Como as gazelas que correm livres sobre o chão seco, de pelo crispado pelo calor, seco e povoado de pulgas, e depois são fechadas numa gaiola de jardim zoológico porque, afinal, são bonitas e admiráveis, fáceis de alimentar, elegantes, com postura perfeita de museu; acontece que a gazela morre mesmo quando a barriga é alimentada a horas certas, e entre esse fado ou a boca do leão dilacerando as artérias do pescoço, duvido que escolha a clausura em lugar da liberdade.
O amor não devia ser uma prisão, mas para quem o amor só existe se pensado, como material para histórias que não se contam a ninguém, é coisa que não presta. Para mim, não presta.
Há no sangue correntes de maresia e cheiro de pinheiros eternamente verdes – folhas perenes, persistentes nas espigas, a resina gotejante e inesgotável. O que é que se faz com isso? Nada – olha-se para dentro e espera-se que, um dia, venha o conforto de todos a ser o meu também: casa bonita, jantares interessantes, vida social de luxo, roupa e sapatos e cabelo impecável.

Só sabe amar de forma feroz e sofrida, puramente idílica, sem palco físico. Que merda de poetiquice. 

Eu sou quem dança e parte sozinha. Quem fica mal em todo o lado.

Comentários

Mensagens populares