canção do trabalho
Homens
na terra. Mais de trinta. Todos iguais de armas na mão. Armas que hão-de
amanhar o solo pútrido de vida. O tronco, nu, a arder sobre a luz do sol
estival.
Iniciam
o trabalho.
Eles
cavam aqui e ali. Empregam a força na lavoura. Cantam ao ritmo de cada bicho.
Eles
cavam aqui e ali. Impregnam o peito com a poeira que lhes entra pelas narinas e
preenche as entranhas.
Derradeiro trabalho. Monotonia desconcertante. Gente simétrica.
Derradeiro trabalho. Monotonia desconcertante. Gente simétrica.
As
boinas deslocadas e as palavras ofegantes: “Ide gente!”.
Homens
com a terra debaixo dos pés; a terra que puxam, cavam e abrem. Tudo por mais
uma côdea de pão, só mais uma… Ritmicamente, ao som das badaladas cardíacas que
o esforço faz tremer debaixo da pele, dos músculos, dos ossos.
Todos
iguais e sincronizados, lá na colina árida que serve muda a fome dos Homens.
Levantam
o pó e fazem-no baloiçar nas intermitências do vento. O pó que os há-de comer.
O pó que vos há-de comer.
O
sol cresce e põe-se alto, depois desce. E eles, mais de trinta, ali estão. O
barulho da pás a penetrarem solo adentro; tão amorosamente é espelhado em cada
rosto, nas rugas fincadas nas testas franzidas, nos sobrolhos carregados.
“Ide
gente!”
Chega
o cansaço, gritam ao desgarrado tempo, que passa devagar, compassadamente,
surdo.
Uma
vida, duas vidas, trinta! O suor, o doce perfume do trabalho, o doce perfume da
virilidade, a servirem-se da Terra.
Oh!
Ingrata! Agora dás, não tarda tiras.
Eles
bailam, juro que bailam. É esta a canção do trabalho.
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