quarta-feira treze
“Mãe,
porque choras?”, “Nada, pequena. Apenas me dói a cabeça”. A resposta era sempre
a mesma para uma pergunta repetida vezes sem conta. A dor de cabeça dissimulava
lágrimas desavergonhadas. E talvez a dissimulação fosse extenuantemente longa.
No fundo, até servia de consolo, nem que fosse um consolo etéreo, volátil como
uma ideia desenraizada. Havia de reserva uma infinidade de outras desculpas
cujo objectivo era somente camuflar uma outra dor que, embora sem intenção, o
pequeno corpo provocava; era uma dor da alma, um sofrimento que queimava pai e
mãe e os deixava como reservatórios em tempo de seca, vazios e ressequidos.
Nela
habitava o monstro.
"Oh
mãe, não chores mais!"
Eufemismo
de uma figa, nem brincando ao faz-de-conta...
e
venceu com a veleidade do coração, que girou em calhas de roda, entretendo a
razão.
.Sem
dúvida que hoje, logo hoje, é um dia para pensar.
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