da vida, da exaustão e do fim
Quero-te,
ó vida de faces dentadas, pernas rodadas.
Quero-te
sofregamente. De um modo ridículo, ilógico e inconsequente, disparatado.
Quero-te
cheia de vírgulas e reticências, cheia de eufemismos e perífrases, metáforas,
hipálages, oxímoros, sinestesia; cheia de todos os [recursos] que existem e os
que hão-de existir.
Letras
mudas e berrantes.
Silêncio
a rebentar os ouvidos de tanto prurido.
Quero
sangue no joelho, e cicatrizes. Porque quero correr, correr, cansar-me. E,
enfim, cair.
Esfolar-me.
De
qualquer maneira e de maneira nenhuma.
Sem
fôlego, a transpirar, embebida em cólera, plena de alegria.
Um
cansaço vertiginoso, daqueles que tão bem me serve e tanto gozo me dá a
derreter.
Exaustivo,
já o disse uma vez: torpor exaustivo.
Agora
resta rasgar o Mundo com golpes secos e precisos.
Que
toda esta matéria, por mais fugaz que seja, acaba sendo feita das mesmas
moléculas que se enleiam no girar arrebatado do meu corpo: imaterial e irreal,
apesar de tudo.
Novamente
o número e o tempo e os anos.
Novamente,
novamente.
Menos
amanhã, que amanhã tudo estará terminado!
.(Com a preciosa ajuda do caríssimo senhor
Dostoiévski)
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Junho de 96
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