chuva, vapor e velocidade
Às vezes chove-me nas mãos
uma água que não lembra água, que tem lá mais qualquer coisa, que é também
pedra de sal dissolvida.
Nessas vezes, chove-me ainda,
sobre o corpo todo, a tortura de, no fim, ser apenas fim e nada mais... Sem ficha
técnica, sem aparato hollywoodesco, sem
glória a recordar. Um prato vazio, lambido pelo tempo.
É um dilúvio, eminência,
uma verdadeira porcaria, que a lama vem sempre por arrasto, misturada,
escorrendo por esta espécie de cabo das tormentas.
Mais vapor.
Depois há o calor, que faz precipitar este caldo grotesco, dizem os peritos que é porque a agitação das partículas se iguala à do ponto de ebulição. Então, é ver as bolhas de acre cor a regurgitarem bafos gasosos, explodindo quando a temperatura assim o exige.
Mais
velocidade.
Terra, verde, flores, ovelhas, campos, homens, casas, enxadas, gatos, montanhas, lagos, (...) olhos! olhos! olhos! Onde estão?
Tão veloz, não estão.
Turner: Chuva, vapor e velocidade
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