o coração


Talvez se eu fizesse um golpe profundo, lá para os lados da espessura do esterno, o encontrasse. A espirrar sangue em todas as direcções, sabem como é: o pessoal sobrevive porque o coração trabalha nessa labuta constante, de levar o fluido vital, ou pneuma, como dizia o outro, a todos os lugares da coisa-Homem; e, garanto-vos, são muitos; isto de ser gente, ó senhores, ainda é complexo: há muita coisinha, miudinha, pianinha…
Está lá metido, entre as outras estruturas, ele, a máquina, ou motor, ou bomba, ou simplesmente coração. E, anatomicamente falando, não há nada dessas tretas de sentimentos grandes e valorosos a registar no meio dos ventrículos e dos átrios. Não há, pronto. É tudo carne e polarização e despolarização. Apenas. Só. Mais nada além de carne.
E polarização.
E despolarização.

É mágico, é bonito, é o acontecimento mais glorioso da existência humana. É. Mas só porque é simples, porque não mete mariquices, porque tem um funcionamento lógico e razoável que permite VIVER.
E quem vive, faz o resto. Provavelmente, pode até amar. Não sei, nunca pensei muito nisso…
Mas o coração não! O coração não ama, caramba! Alimenta. 



Soutine, Carcass of Beef

Por hoje, tudo. Um dia, cérebro.

Comentários

Anónimo disse…
E despolarização e repolarização.
Nerd xD O primeiro não será, certamente, repolarização. Polariza. O segundo já admite prefixo.
Pickles disse…
Gostei muito de ler isto, mesmo muito.
(e obrigado por evitares demasiado jargão técnico para os leigos :P)

Mensagens populares