nuvem mágica
Van Gogh
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Não queremos mais do que ficar no meio das
ervas altas, corridas a vento e vidências daquilo sobre o qual, hoje, ainda não
reflectimos. Sei o teu nome, e não te nomeio. És, afinal, uma presença
constante que constantemente se evapora.
A Maria continua à espera que a noite chegue
com a sua bagagem portentosa. Aguarda o negro profundo que, selvaticamente
debruçado sobre tudo, como quem se empoleira na calha da janela, vê os bichos
correrem na rua. Coitada, devia saber…
Saltam horas para rebolarem os minutos, e a
noite não vem.
Está mergulhada na luz embrutecida do sol,
a Maria. Já nem vê claramente, está toda feita manchas amarelas e escaldantes,
pontos azuis flamejavam com outras tantas cores e tudo desaba com a lentidão de
quem caia uma parede nua.
E o sono não traz a noite. Nem menos calor.
Ou mais calor.
Aguarda sonâmbula.
Por fim, o céu pontilhado emerge de um
regurgitar de espírito que não se pode mais silenciar. Maria, porém, não chegou
a aplaudir o parto.
Coitada, agora já sabe.
Há tantas Marias na terra. Nenhuma sabe o
que Nós sabemos. Se calhar, devíamos ter-lhe dito.
Do topo da nuvem mágica.
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