i've got the spirit


ou alice ao sol#7



Disorder, Joy Division

***
Percebeu a Alice que na sua cabeça urge morar algo mais que o conhecimento sobre outras cabeças anatomicamente semelhantes à sua; que na medula lhe correm mais do que vias e núcleos cinzentos; que não só a literatura que lhe enche átrios e ventrículos ou afina curiosidade e caligrafia.
Não será por isso a velocidade do dia-após-dia que a fará esquecer que, além de medicina e livros e poetas, além das ruas revestidas a calçada e ladeadas de prédios pombalinos - ou não tão pombalinos assim -, ruas essas calcorreadas por encantadores eléctricos e autocarros de menor charme que drenam toda a confusão urbana ao gigante Tejo, além de tudo isso – mais a doença e o vazio, o hospital e o seu quarto - há a magia do palco transbordante de música,
de eu estar inundada de música, luzes piscando, pessoas à volta sumindo-se para mim, lugar em que me absorvo, esponja de mim mesma, nas minhas memórias, emoções… É um delírio íntimo que vivo ali, ali, ali, alternando entre instantes de escuridão e instantes de grande intensidade luminosa, viajando deste para aquele sítio, coração pulando dentro da caixa torácica, tímpano, latente e alerta na sua latência, vibrando, e saber então que a vibração viaja por martelo, bigorna e estribo,
corre-me, eléctrica,
percorre-me, frenética
Que sou eu, frenética, eu, eu, eu, num estado quase só de esquizofrenia, eu, demente, sem controlo voluntário dos meus músculos, aguentando-me de pé sem saber que de pé estou, porque, como esquizofrénica que sou, me acho a flutuar. E flutuo.
E no fim, até após o fim, não restar nem silêncio, nem solidão, mas sim a vibração prolongada, pi elevado à potência infinita, daquela hora de concerto e dois ou três encores.

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