o básico não é um vestido preto
Pedia
o perdão – não é nada de extraordinário, mas, na mesma medida e em sentido
contrário, é tudo. Homem robusto, de barba tão grossa que pica, voz alta,
máscula, o perdão faz diferença; é, com toda a certeza, esse ponto fundamental de
viragem entre as pessoas, nas pessoas.
É
que, analisemos bem, quando um dia estivermos de joelhos agarrados à lápide com
o nome de um de nós inscrito, os arranhões na pintura do carro serão somente
dez ou onze linhas em que a tinta sobre o metal nos surge menos nítida; e nesse
momento, garanto, daríamos todo o azul do mundo, em todos os tons, para que
aquela lápide não estivesse ali, para que as lágrimas não nos destruíssem a
alma com tanto sofrimento, para que nós, durante apenas mais um dia, pudéssemos
voltar à praia e mergulhar os dedos na manteiga derretida com alhos e sumo de
limão.
Por isso é que o básico não é um vestido preto (ou uma camisola, ou um par de calças, ou um casaco a combinar): o básico é pedires-me que te passe o pão e depois da vírgula que na oralidade não enunciamos venha um simples e tão solene "se faz favor".
Posto isto, saliento que estas não são mais umas linhas sobre a morte, filha, escreves sempre sobre a morte.
Posto isto, saliento que estas não são mais umas linhas sobre a morte, filha, escreves sempre sobre a morte.
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