consciência

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Tomamos consciência de que vai acabar: sabemos que estamos a morrer.
A queda no vazio aproxima-se a passos largos,
envolta numa avalanche de emoções que nos soterra sofregamente,
empurrando o corpo e tudo o que advém dele para um estado de tédio e absurdo. Incontornável. A razão é ultrapassada pela dor.
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Era ainda muito jovem quando deixou de conseguir distinguir com clarividência a vida da morte: uma misturava-se com a outra, de uma forma tão paradoxal quanto for possível ao leitor adivinhar. Se vivia sentia-se morto, mas imaginando-se morto já se achava vivo. Era lá, do outro lado, do lado oco da nossa existência que resistia uma nesga de esperança: a de alcançar a liberdade.
A razão, constante da vida, ultrapassou as questões do sofrimento, constituído por todas as suas características cruéis, afogando a vontade de lutar; uma luta desigual que, à partida, já era perdida.

Há algo mais importante num homem que a sua subsistência.

Comentários

Anónimo disse…
"Sempre chegamos aonde nos esperam"
Rita disse…
Dizem que o que nos distingue dos animais é a procura de algo mais do que a sobrevivência. A capacidade do pensamento, do racionalizar. E ao tentarmos tornarmo-nos mais humanos, possuíndo, sobrevivendo, esquecemo-nos que nos tornamos mais animais. É mais homem o vagabundo que vive na rua e nega a pura subsitência, que aquele que luta para a manter e acaba vivendo como um animal.


(aos festivais Ana, e à nova 'aventura', que ainda hão-de proporcionar oportunidade para aquela subsistência (não mais do que 3))
Isso é o Conto dos Bons Costumes (é esse o título, não é?) na sua essência :D
Aprecio mesmo a tua perspicácia para leres nas entrelinhas e puxares essa brutalidade que é fingirmo-nos Homens.

(Proponho, portanto, um brinde. Um brinde com imperiais, à moda de festivais!)

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