flutuações
“Vamos
morrer, disse Lídia, mas não se agarrou ao homem que estava deitado ao seu
lado, como devia ser natural, as frágeis mulheres, em geral, são assim, os
homens é que, aterrorizados, dizem, não é nada, sossega, já passou, dizem-no,
sobretudo, a si próprios”
Jimmie Durham,
algures na exposição permanente da
Coleção Berardo
Sou de cá.
Desembrulhei uma pastilha elástica,
queres?, perguntei, não, obrigada, respondi.
Rebentava um balão quando a carrinha das
mudanças chegou. Dali vi, como eu vi, a casa dos meus vizinhos ser arrumada em
meia dúzia de caixas. Nisto não há nada de belo, eram só caixotes vulgares com
as particularidades inúteis das suas vidas lá enfiadas, depois empilhadas
ordeiramente na carrinha, depois levadas para outro lugar qualquer. Até podiam
ir para a Indochina, é-me indiferente, e eu também não me importo. A família
saiu em fila, entraram no carro, exceto a mãe, que lá tinha as suas íntimas razões para bloquear em frente da porta, olhando o prédio de frente: aqui aconteceu…
Já se foram, partiu a família
inteira com as suas tralhas ao topo do cortejo. O maior problema foi o novelo
que se formou quando, finalmente, se sentaram todos, em simultâneo, no mesmo espaço.
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