deixámos o pó para depois




"Podiam umas centenas de milhares de seres humanos amontoados naquele espaço mutilar a terra sobre a qual se juntavam, podiam esmagar o solo com blocos de pedra para que nada germinasse, podiam arrancar as ervas que começavam a nascer (...), mas a Primavera, mesmo na cidade, seria sempre Primavera. (...) Tudo estava jubiloso: as plantas, as aves, os insectos, as crianças. Mas os homens, os grandes, os adultos, continuavam a enganar-se uns aos outros e a atormentarem-se mutuamente. O que contava para eles não era aquela manhã de Primavera, nem a beleza do Universo que Deus concede aos seres para os tornar felizes - beleza que convida à paz, à união, ao amor; não, para eles apenas era importante e sagrado o que tinham imaginado para dominarem o próximo."
            Ressurreição, Lev Tolstoi
Em cima é Renoir
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Partimos a loiça, e os cacos estão debaixo do tapete. Ou dentro da televisão, que deixa a miséria, a destruição, o lado mais sujo da gente, pulular de audiência em audiência, estropiando os raios que nos troncos ainda pelados e caquéticos se fazem estilhaçar, e as flores mal vestidas, e o céu mal pintado.
Ou debaixo do tapete, que o pó fica para depois.

Comentários

Pickles disse…
E consomem-se pelas ideias auto-destrutivas uns dos outros e consomem-se a olhar para o ruído cósmico que se pinta de tragédia viciante e consumível.

Gostei disto ^^(e do restante que não tenho comentado, não que não mereça opinião, mas tu já dizes tudo muito bem)
Passa no cagalhão que o último post que lá está, escrevi-o para ti. (sempre sonhei em dizer "passa no cagalhão")

Anyways, dia 18 ou 19 de abril, nas férias pascoais, era uma boa altura para nos vermos, não?

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